Educação tutorial na Medicina Veterinária trabalha interdisciplinaridade e habilidades humanísticas entre alunos de graduação

11/02/2016 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:50am

Ensino, pesquisa e extensão. Esse é um dos tripés fundamentais para uma formação completa de graduação, na visão da estudante de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Lígia Assunção. Os três requisitos são os pilares dos Programas de Educação Tutorial (PETs), incluindo o PET de Medicina Veterinária da UFU, onde Lígia é bolsista há cerca de um ano.

Os PETs são programas criados pelo Ministério da Educação (MEC) e desenvolvidos por grupos de estudantes com a tutoria de um docente, em cursos de graduação das Instituições de Ensino Superior (IES) de todo o Brasil. Buscam contribuir para uma formação mais ampla e estimular valores que reforcem a cidadania e a consciência social dos alunos.

Atualmente, são 842 grupos PET distribuídos entre 121 IES, sendo 9 deles de Medicina Veterinária, nas regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste.

""Crédito: Marcus Cossi

Na UFU, o Pet de Veterinária conta com 12 alunos bolsistas e um docente tutor. O grupo se reúne no mínimo uma vez por semana para desenvolver projetos, eventos, cursos e ações voltados ao ensino, pesquisa e extensão.

O médico veterinário Marcus Cossi é tutor do grupo desde o final de 2014 e diz ter percebido a importância do programa para a graduação dos cursos no país.

“Essa contribuição tem acontecido de diversas formas na Veterinária, com eventos que abordam temas pouco discutidos na grade curricular, cursos e ações para o desenvolvimento de competências que vão além da parte técnica e aproximação dos discentes com a comunidade, reforçando seu papel como cidadãos”, afirma.

""Crédito: Marcus Cossi

Em 2015, o grupo organizou um dia de interação com a comunidade uberlandense em um parque da cidade para falar sobre zoonose e toxinfecção alimentar. No mesmo ano, promoveu a Campanha “Outubro Rosa Pets”, em que as pessoas participaram com fotos de seus animais nas redes sociais. Os proprietários dos animais foram recebidos pelo grupo para esclarecer dúvidas sobre o câncer de mama.

Trabalho interdisciplinar

Uma das características dos grupos PET é serem formados por estudantes de diferentes períodos do curso de graduação. “Essa heterogeneidade contribui para que todas as atividades tenham um carácter interdisciplinar, uma vez que a visão de cada discente condiz em parte com o período que está cursando”, explica Marcus Cossi.  

Para a “petiana” Lígia Assunção, o trabalho em equipe é um dos maiores benefícios de estar no PET. Além disso, a estudante destaca a possibilidade de ter um maior contato com professores e profissionais. “Por termos que organizar atividades de ensino, como seminários, encontros e palestras, temos a possibilidade de contato direto com docentes e médicos veterinários e podemos mostrar a eles um pouco do nosso trabalho”, diz Lígia.

No Pet-Vet da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), em Belém (PA), o grupo conta com 17 acadêmicos e os projetos desenvolvidos incluem visitas técnicas a fazendas, onde os petianos realizam treinamento e qualificação em buiatria para atuar nas propriedades rurais do estado. A criação de bubalinos é umas das principais atividades pecuárias do Pará.

""Crédito: Rinaldo Viana

“Essa ação possibilita não somente o treinamento dos petianos na área, mas também colabora com o progresso pecuário do estado do Pará, já que os jovens atuam sob supervisão de veterinários da região, colaborando em suas ações” explica o tutor e idealizador do PET-Vet da Ufra, Rinaldo Vianna.

No PET da Ufra são realizadas ainda ações sociais anuais para promover a medicina veterinária do coletivo, área que visa garantir a saúde e o bem-estar de cães e gatos em abrigos e Centros de Controle de Zoonoses (CZZs), além de colóquios buiátricos, elaboração de cartilhas, tertúlias (discussões) acadêmicas, entre outras atividades.

Alef Moreira cursa o 6º semestre de graduação na Ufra e está no PET desde outubro de 2013. O estudante, que pretende atuar com grandes animais na área de clínica médica e sanidade animal, acredita que as experiências vividas como petiano serão um diferencial quando entrar no mercado profissional. “Eu digo que sou petiano dentro e fora da Ufra, e desde que entrei me sinto mais confiante para lidar com situações desafiadoras”, afirma.

""Crédito: Rinaldo Viana

Além da técnica

Para os ex-petianos, os benefícios da experiência podem ser comprovados na prática. Uma das egressas, a médica veterinária Natália Benincasa, participou do Pet-Vet da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal (SP) entre 2012 e 2014. Para a profissional, o Programa de Educação Tutorial foi um dos responsáveis pela definição do que queria dentro da Medicina Veterinária. Atualmente, Natália é mestranda na área de Bem-estar de animais de produção na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (USP).

“Aprendi a ter mais desenvoltura, além de ter feito muitos amigos e laços profissionais para a vida toda. Hoje eu vejo que o PET foi um fator fundamental para a definição de quem eu sou hoje, comunicativa e independente”, afirma Natália.

Para ela, ao trabalhar cursos e temas variados, o petiano abre as fronteiras do seu conhecimento para assuntos que nunca imaginou se envolver. “Atualmente somos cobrados por criatividade, capacidade de trabalhar em grupo e resolução de problemas”, diz.

O médico veterinário da UFU, Marcus Cossi, concorda que a ligação entre os diversos assuntos trabalhados nos PETs mostra que a profissão vai além da formação de bons técnicos. “Queremos formar médicos veterinários que saibam de sua importância na saúde pública, nas políticas de saúde unificada e que tenham desenvolvido outras competências gerais, como a comunicação interpessoal e o marketing, por exemplo”, finaliza.

Saiba mais

A partir da data em que é criado, o grupo PET mantém suas atividades por tempo indeterminado. Os integrantes, no entanto, possuem um tempo máximo de vínculo: ao bolsista de graduação é permitida a permanência até a conclusão da sua graduação e, ao tutor, por um período de no máximo seis anos, desde que obedecidas as normas do Programa.

Ao final de cada ano de trabalho do PET, são realizadas reuniões com o grupo para definir as ações para o ano seguinte. O Planejamento Anual é aprovado pelo Comitê Local de Acompanhamento e Avaliação (CLAA) e enviado ao MEC. Todas as ações são acompanhadas pelo tutor e os resultados são apresentados e discutidos nas reuniões semanais do grupo.

Assessoria de Comunicação do CFMV